Por que pastores estão cometendo suicídio?

O que leva uma pessoa a dar fim à própria vida? No sul do Brasil, entre algumas tribos indígenas, e em outros lugares ao redor do mundo, cresce o número de suicídios. Em nosso país o predomínio dos meios de suicídios está no enforcamento, na intoxicação, no uso de agrotóxicos, raticidas (chumbinho), medicamentos psicofármacos, ferimentos por arma de fogo, arremeter-se contra veículos, e atirar-se de alturas. Por que isso acontece e por que acontece entre crentes?

O suicídio no Brasil tem crescido entre jovens e adultos jovens do sexo masculino, mas tem atingido também as crianças. Uma possível razão para isso é que a infância encolheu; as crianças precocemente têm que apresentar soluções como se fossem adolescentes. Enquanto isso, a adolescência aumentou, com um final cada vez mais tardio nessa fase da vida. Essas mudanças de padrões sociais têm contribuído para o aumento de suicídios em nosso país. As pessoas são cada vez mais cobradas na aparência, na inteligência e no desempenho naquilo que fazem. A competitividade existe em todas as áreas sociais, e isso provoca tensão, insegurança, estresse, e ansiedade constante. Além disso, a falta de propósito na vida torna tudo sem sentido para um número cada vez maior de pessoas. Mas, e quando o suicídio atinge as igrejas, seus membros e seus pastores! O que dizer disso?

A questão não é nem a ideia do suicídio em si, mas o que fazer com tal ideia. Esse é um assunto que ninguém gosta de falar sobre ele, ainda que muitos tenham pensamentos suicidas. Você já imaginou um crente pedir a palavra no culto para falar que está lutando com pensamentos suicidas? Ninguém tem coragem de fazer isso, nem mesmo em um ambiente mais restrito da igreja - não há ambiente para isso. Tal pessoa seria vista negativamente e facilmente sofreria rejeições ou no máximo ajudas paliativas. Pior seria se o suicida em potencial fosse o pastor da igreja. Mas, a verdade está vindo à tona dentro das igrejas, porque as pessoas são normais, humanas, frágeis, e muitas delas não têm nenhuma experiência de conversão a Cristo, são apenas adestradas nos costumes religiosos.

As pessoas se suicidam por causas as mais diversas: depressão, dívidas, problemas psicológicos, doenças, drogas, álcool, esquizofrenia, família desfeita, transtorno bipolar, e tantas outras causas. Esses e outros problemas da vida inerentes a qualquer pessoa fazem com que muitos percam a vontade de viver, e se não forem cuidadas e curadas, podem ser tentadas a pensar em suicídio. Como disse Soren Kierkegaard: “Quando na vida a pior coisa que um ser humano conhece é a morte, ele quer viver; mas, quando na existência a pior coisa que alguém conheça é a experiência de estar vivo, ele quer morrer”. A angústia de existir tem levado muitas pessoas a fugirem da vida pela via do suicídio. A maioria dos suicidas não está querendo morrer; a maioria dos suicidas não está é aguentando viver.

O que tenho dito até aqui parece não atingir os crentes, especialmente aos pastores que são homens maduros, espirituais, conhecedores da Bíblia e tementes a Deus. Mas não é o que tem acontecido. Pelo contrário, uma onda de suicídios entre pastores está levando a mídia cristã nos Estados Unidos a questionar o que estaria levando os líderes religiosos ao desespero.

Nestes últimos trinta dias, três pastores americanos famosos cometeram suicídio: Teddy Parker Jr., de 42 anos, pastor da Igreja Batista, na Geórgia, que se matou com um tiro na cabeça; na última semana, o pastor Ed Montgomery, líder da Assembleia Internacional do Evangelho Pleno, em Illinois, ainda em luto pela morte da esposa, atirou em si mesmo na frente de sua mãe e filho; no dia 10 de dezembro, foi a vez do Pr. Isaac Hunter, fundador da mega igreja Summit em Orlando, Flórida. Este caso em particular chamou a atenção da mídia americana, pois o pai de Isaac, o também pastor Joel Hunter, é conselheiro espiritual de Barack Obama. Joel é líder da Northland, uma das igrejas que mais crescem nos EUA.

Esses casos são recentes, mas existem outros casos envolvendo pastores e familiares. Oral Roberts, famoso mundialmente pela TV, perdeu seu filho em suicídio depois de ter sido severamente repreendido pelo pai ao declarar-se homossexual em rede nacional. Mais recentemente, o pastor Franck Page, ex-presidente da Convenção Batista do Sul dos EUA também perdeu sua filha Melissa em função de um suicídio.

Lembro-me também do filho caçula de Rick Warren, considerado o pastor mais influente deste início de século nos EUA. Matthew Warren tinha apenas 27 anos, e, segundo seus pais, lutou a vida inteira contra a depressão. Em abril deste ano, Mattew resolveu por um fim em sua luta, suicidando-se com um tiro após uma reunião familiar.

Por que pastores bem-sucedidos estão cometendo suicídio? Conquanto isso seja estranho, o suicídio não é um problema novo entre pastores. As estatísticas sobre pastores com depressão, esgotamento, problemas de saúde, baixos salários, espiritualidade em crise, relacionamentos em crise, deixam claro a gravidade do problema.

Segundo o Instituto Schaeffer, 70% dos pastores lutam constantemente com a depressão, 70% deles acreditam que não tem um amigo próximo, 71% se dizem esgotados, 72% dizem que só estudam a Bíblia, quando estão preparando sermões, e 80% acreditam que o ministério pastoral tem afetado negativamente as suas famílias. A expectativa, segundo o relatório do estudo feito pelo Instituto Schaeffer, é de que 80% dos atuais seminaristas vão deixar o ministério apenas 5 anos depois de formados. Essa é condição emocional da maioria daqueles que ocupam os púlpitos das igrejas.

Essa onda de suicídios entre pastores está acontecendo nos Estados Unidos, mas os pastores brasileiros estão sujeitos às mesmas estatísticas mencionadas acima. Digo isso porque conheço esse meio, depois de ser pastor de uma denominação histórica por quase trinta anos. Abandonei a igreja institucional depois de uma depressão que estava me matando. Sei como é a relação entre pastores, conheço a superficialidade dos relacionamentos e das amizades por conveniência. Muitos pastores estão sofrendo com a solidão sem nenhum cuidado.

A maléfica teologia da prosperidade está desgraçando a vida de muitos pastores que correm atrás de sucesso ministerial e financeiro. Os pastores precisam de amigos, amor e compreensão. Eles mesmos precisam ser humildes, pois há muita prepotência entre eles. A maioria dos pastores precisa fazer terapia e as igrejas devem criar um ambiente de liberdade, amor e aceitação onde as pessoas possam confessar seus pecados e externar seus conflitos sem medo de serem julgadas e rejeitadas; isso não existe nas igrejas.

Que as igrejas parem de acreditar e pregar essa mentira do diabo quando dizem que toda pessoa que se suicida vai para o inferno. Jesus disse: “Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça”. E mais: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também”. Ninguém sabe o que leva alguém ao suicídio, por isso mesmo ninguém pode julgar ou condenar tal pessoa. O apóstolo Paulo escreveu em uma de suas cartas: “Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida”. Quem se desespera da própria vida, está sujeito a recorrer ao suicídio, ainda que seja um apóstolo do Novo Testamento. As igrejas devem mostrar esperança aos que sofrem e não juízo infamatório.

Antonio Francisco – Cuiabá, 14 de dezembro de 2013 – Voltar para Perguntas e Respostas.