Juramentos

No conhecido Sermão do Monte (Mt 5-7) Jesus interpreta a lei mosaica aplicando-a aos discípulos com uma profundidade que os religiosos desconheciam. Ele disse que se a justiça de seus discípulos não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrarão no reino dos céus. A seguir ele falou sobre o homicídio, o adultério, os juramentos, a vingança, e o amor. Nesta oportunidade quero discorrer um pouco sobre os juramentos e como lidar com esse assunto ainda tão atual.

5.33 Também ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás rigorosamente para com o Senhor os teus juramentos. 5.34 Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de Deus; 5.35 nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei; 5.36 nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. 5.37 Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno. (Mt 5.33-37).

O que é juramento? É a invocação que uma pessoa faz do nome de Deus, tendo-o por testemunha de uma palavra ou ato relacionado ao passado, ao presente ou ao futuro. Os juramentos ou votos não eram necessários ou obrigatórios (Dt 23.22), mas, uma vez feitos deveriam ser cumpridos, como podemos ver nos textos abaixo:

“Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êx 207).

“nem jurareis falso pelo meu nome, pois profanaríeis o nome do vosso Deus. Eu sou o SENHOR” (Lv 19.12).

“Quando um homem fizer voto ao SENHOR ou juramento para obrigar-se a alguma abstinência, não violará a sua palavra; segundo tudo o que prometeu, fará” (Nm 30.2).

“Quando fizeres algum voto ao SENHOR, teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o SENHOR, teu Deus, certamente, o requererá de ti, e em ti haverá pecado” (Dt 23.21).

“Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras” (Ec 5.4-5).

Como acontece com os falsos mestres, os escribas e fariseus fizeram ajustes e adequações com relação aos juramentos na tentativa de amenizar a seriedade do assunto. Para isso ensinavam ao povo a usar o nome do Senhor de forma indireta nos juramentos, sem tanta preocupação em cumprir com os votos que não mencionassem o nome de Deus. Jesus reprova tal ensino chamando os escribas e fariseus de guias cegos (Mt 23.16-22).

Note a radicalidade de Jesus ao dizer: “de modo algum jureis”. Ele argumenta que todo juramento envolve o nome de Deus mesmo quando não é mencionado, porque tudo pertence a ele. O “céu”, é o seu trono; a “terra”, é o tablado de seus pés; “Jerusalém”, é a cidade santa. Até mesmo a nossa cabeça está sob o controle de Deus. Jesus acaba com a idéia do sagrado, ou seja, fazer uso nos votos de lugares ou coisas que lembram Deus.

“A lei do Antigo Testamento recusa a mentira pelo juramento. Jesus, porém, recusa a mentira pela proibição do juramento” (Dietrich Bonhoeffer).

Deus permitiu os juramentos no Antigo Testamento por causa da falsidade humana, assim como permitiu o divórcio por causa da dureza dos corações. Mas, e os juramentos divinos, o que significam? Por que Deus jurou abençoar Abraão (Gn 22.16-17; Hb 6.13-18) se ele mesmo não quer que juremos? Certamente Deus não precisava jurar para dar credibilidade à sua palavra, mas para despertar e fortalecer nossa fé vacilante.

O juramento se fez necessário por causa da mentira, porque ele visa impedir a mentira, uma vez que a pessoa que jura promete estar falando a verdade. Ao mesmo tempo o juramento pode ser um esconderijo para a mentira que se fortalece com a garantia dada no juramento. Isso deixa claro que o juramento não garante a verdade, pelo contrário, pode trabalhar em favor da mentira. Por isso, Jesus condenou a mentira atacando o seu castelo forte que é o juramento. Ele disse: “de modo algum jureis”.

Mas, rejeitar o juramento não garante a verdade, pelo contrário, pode ser outra maneira de ocultar a verdade quando a disposição de mentir se instala em nós. Falar a verdade não depende de jurar ou não jurar, mas de pedir a Deus que vigie a porta de nossos lábios (Sl 141.3), e da decisão de falar sempre a verdade com o nosso próximo (Ef 4.25). Antes, porém, devo falar a verdade para mim mesmo, reprovando melindres e desânimos (Sl 42.5), e não pensando de mim mesmo além do que sou (Rm 12.3). A verdade deve ser falada em amor com todos sem a necessidade de juramentos (Ef 4.15).

O discípulo de Jesus não precisa jurar, ele sabe que “todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” (Hb 4.13); ele sabe que pelas suas palavras será justificado e, pelas suas palavras será condenado (Mt 12.37); ele sabe que “os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons” (Pv 15.3). Sobretudo, a vontade do discípulo é fazer a vontade de Deus (Sl 40.8). Por isso, suas palavras são agradáveis e temperadas com sal (Cl 4.6).

A pessoa que precisa jurar para ser confiável no que diz, não é confiável quando diz sem jurar, e assim coloca em dúvida tudo o que diz. O juramento é uma confissão de que nossa palavra não merece crédito. E, para evitar a prática de juramentos, muitas vezes usamos uma linguagem exagerada, expressões hiperbólicas e termos superlativos nas conversações, nos negócios e no fechamento de acordos. Recorrer a isso desvaloriza ainda mais o que falamos e o que prometemos. Exatamente por isso foi que Jesus disse que nossa palavra deve ser “sim, sim; não, não”. Quando um monossílabo é suficiente, não há necessidade de formular uma frase. “O que disto passar vem do maligno”.

O que vem do maligno? A mentira. O diabo é o pai da mentira (Jo 8.44). Mas, antes de atribuir nossos erros ao diabo como é tão comum fazer, é necessário assumir que somos maus por natureza, que nosso coração é enganoso, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; ninguém é capaz de saber até que ponto é tão mau nosso coração. É do nosso coração que procedem maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. Com todo esse potencial para o mal em nós, o diabo facilmente pode nos envolver na mentira, fazendo uso ou não de juramentos. Cabe a nós não dar lugar ao diabo, mas andar no Caminho da verdade e da vida que é Jesus.

Antonio Francisco – Cuiabá, 8 de março de 2013 – Voltar para A vida extraordinária.

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