Adultério e Divórcio

Depois de falar do sexto mandamento: "Não matarás" (Êx 20.13), que condena o homicídio, o ódio, o insulto e a nulificação do nosso próximo, Jesus fala também acerca do sétimo mandamento: "Não adulterarás" (Êx 20.14), que incluía o décimo mandamento: "Não cobiçarás a mulher do teu próximo" (Êx 20.17). Os religiosos dos dias de Jesus diziam que evitar o ato do adultério era o bastante para cumprir o mandamento; mas Jesus não pensava como eles.

5.27 Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. 5.28 Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela. 5.29 Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno. 5.30 E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para o inferno. 5.31 Também foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. 5.32 Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério. (Mateus 5.27-32).

Depois da Criação Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea" (Gn 2.18). "Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne. Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam" (Gn 2.24-25). Cântico dos Cânticos é dedicado ao erotismo; o livro de Provérbios diz que o homem deve se saciar com os seios de sua mulher em todo o tempo e embriagar-se sempre com suas carícias (Pv 5.15-20). E mais: "O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher. Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência" (1Co 7.3-5). Portanto, nada contra o sexo, pois ele foi criado por Deus.

Jesus não falou contra o sexo, mas contra a impureza sexual. Ele não proibiu olhar para uma mulher, mas sim, não olhar com intenção impura, vendo a mulher apenas como um produto de consumo. Olhar e cobiçar não são a mesma coisa, bem sabemos. Toda prática sexual impura no ato, também é impura no olhar e no pensar. Jó fez uma aliança com os seus olhos de não olhar para uma mulher com impureza para que o seu coração não seguisse os seus olhos e assim fosse ele seduzido por uma mulher. Aqui cabe lembrar o velho ditado: “O que os olhos não veem o coração não sente”.

Obedecer ao que Jesus diz implica ir à raiz do problema, e o problema não é a mulher, mas o olhar com intenção impura. Se o problema se dá na mente, devemos trabalhar a mente em relação ao sexo oposto. Uma maneira de lidar com isso é mudar nosso modo de olhar para as pessoas. Paulo disse a Timóteo: “Não repreendas ao homem idoso; antes, exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães; às moças, como a irmãs, com toda a pureza” (1Tm 5.1-2). Ele não estava falando de sexo, mas é uma boa aplicação, tratar os homens idosos como pais; os rapazes, como irmãos; as mulheres idosas, como mães; e as jovens como irmãs, com toda a pureza.

Quando Jesus falou de arrancar o olho e cortar a mão, usou uma linguagem hiperbólica para mostrar a seriedade do assunto, mas não estava ensinando a amputação literal, pois nem isso evitaria o pecado, porque ele acontece no coração antes que seja executado pelos membros do corpo. Jesus não falava de mutilação, mas de mortificação, como nos ensina o apóstolo Paulo: “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências” (Gl 5.24). “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria” (Cl 3.5). Mortificação é deixar de olhar e de fazer o que me leva a pecar.

O que Jesus disse é impopular, principalmente em nossos dias de licenciosidades, de mídias pornográficas, e conceitos cada vez mais relativos. Mas, cabe a cada um decidir se quer viver para este mundo ou para a eternidade, se quer andar com a multidão ou com Jesus Cristo, se quer se mutilar de alguns membros e entrar na verdadeira vida ou conservar todo o corpo e ir para o inferno. Quando nos comprometemos com Jesus, não podemos liberar nenhum desejo sem amor, mesmo que seja no olhar. Jesus disse que apenas os limpos de coração verão a Deus (Mt 5.8). Ninguém é perfeitamente casto no olhar e no pensar, mas podemos ser educados no evangelho para renegar a impiedade e as paixões mundanas, vivendo no presente século, sensata, justa e piedosamente.

O divórcio era permitido quando o marido encontrava uma “coisa indecente” na mulher (Dt 24.1-4). Mas, os fariseus perguntaram a Jesus: “É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo?” Jesus disse que não. Insatisfeitos, eles replicaram: “Por que mandou, então, Moisés dar carta de divórcio e repudiar? Respondeu-lhes Jesus: Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio” (Mt 19.3-12). Jesus protegeu as mulheres com a exceção do adultério para o divórcio. Seria essa a única exceção?

Mas, o que dizer dos casamentos que vegetam, de casais que não se amam mais ou que nunca se amaram? Esses casamentos devem ser mantidos até a morte porque não houve o adultério consumado? Não. Casamento não é para ser suportado, não é missão, não é castigo, não é cruz, não é carma, não é penitência. Casamento é a relação de duas pessoas que se amam, que se aceitam, que se perdoam e que são cúmplices na vida. A Bíblia diz que “melhor é morar numa terra deserta do que com a mulher rixosa e iracunda” (Pv 21.19); que se alguém tem cônjuge descrente e ele quiser separar-se, que se separe; em tais casos, o irmão ou a irmã ficam livres; Deus nos tem chamado à paz (1Co 7.15); que sem amor nada tem proveito (1Co 13), nem mesmo o casamento.

O adultério no coração pode nos levar ao inferno, e o ato do adultério pode nos levar à separação conjugal. Mas, há lugar para arrependimento e perdão. Aqueles que são humildes de espírito, mansos, misericordiosos, limpos de coração, pacificadores, conforme as bem-aventuranças (Mt 5.1-12), são também capazes de perdoar uma traição conjugal, mesmo que tenham o direito de se divorciarem, obviamente. Deus no Antigo Testamento se identifica como o esposo traído por Israel. Mas, ele não lhe dá o divórcio, pelo contrário, lhe perdoa e lhe chama de volta (Jr 3.1-13). Veja os três primeiros capítulos do livro de Oséias e imagine Deus na condição de marido traído. O adultério é pecado e o divórcio não é louvável, mas o evangelho diferentemente da religião, não para no pecado, ele alcança e restaura o pecador.

Antonio Francisco - Cuiabá, 15 de fevereiro de 2013 – Voltar para A vida extraordinária.

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