Deixe Jesus ser formado em você

Em Lucas 1.26-38 temos a predição do nascimento de Jesus. O anjo Gabriel foi enviado por Deus para falar com Maria que morava em Nazaré, cidade da Galiléia, região norte da Palestina. Maria era virgem e estava prometida em casamento a José. A saudação do anjo foi: “Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo” (v. 28). A mensagem foi que Deus por pura graça a escolheu para ser a mãe de Jesus.

Digo mãe humana porque Maria é chamada por muitos de mãe de Deus. Não. Deus não tem mãe. Jesus é Deus e como tal ele não tem mãe, pois, suas origens são eternas, ele é o Pai da Eternidade (Mq 5.2; Is 9.6). Porém, como o Verbo divino encarnado, ele nasceu de Maria. Ela mesma sabia que era uma favorecida e não uma merecida, pois disse: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada” (Lc 1.46-48). O problema é que os católicos são Maria de mais, e os evangélicos são Maria de menos. Deixemos Maria no seu devido lugar.

A saudação do anjo deixou Maria perplexa. Ela não entendeu logo aquelas palavras. “Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo” (vs. 30-32). A pergunta imediata de Maria foi: “Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?” (v. 34). Maria provavelmente era uma adolescente, virgem, sem nenhuma experiência sexual. Aquela mensagem divina foi muito estranha para aquela menina moça. Nunca antes havia acontecido de uma virgem ficar grávida por uma ação de Deus sem o líquido fecundante masculino. Isabel, prima de Maria era estéril e já estava na velhice quando engravidou (v. 36), mas, tudo aconteceu mediante o coito com seu marido Zacarias.

A resposta do anjo continuou difícil de aceitar. Ele disse: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra” (v. 35). Em outras palavras, o anjo disse que Maria ficaria grávida do Espírito Santo. E falou mais: “Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas” (v. 37). Ou seja: A concepção de Jesus foi um milagre. Ele nasceu de forma natural, mas foi gerado no ventre de Maria de forma sobrenatural. O Deus Filho se torna homem no ventre de uma virgem. A Bíblia diz que José não teve relações sexuais com Maria até Jesus nascer (Mt 1.21). Naturalmente eles tiveram uma vida sexual normal depois disso e geraram filhos como está explícito nas Escrituras Sagradas (Mc 6.1-3).

A palavra de Maria ao anjo depois de tudo isso foi admirável: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (v. 38). Precisamos parar aqui para considerar as implicações do que disse Maria. Ela estava prometida em casamento, mas ainda não vivia com José quando ficou grávida pelo Espírito Santo (Mt 1.18). Nazaré era uma pequena cidade, tinha cerca de quinze mil habitantes. Maria devia ser bem conhecida. O que pensaram dela quando a barriguinha começou a crescer e ela teve que explicar estar grávida do Espírito Santo? Como ficou sua reputação? O que diziam sua família e amigos? O próprio José, mesmo sendo temente a Deus, resolveu deixá-la secretamente. Não fez isso porque acreditou no anjo que lhe contou tudo em sonho (Mt 1.19-24). Maria correu riscos morais, conjugais, relacionais e tantos outros, ao aceitar a mensagem que o anjo Gabriel lhe trouxe. Mas, disse sim para Deus sem temer nenhuma consequência. Ela assumiu de fato ser uma serva do Senhor.

A atitude de Maria não pode passar despercebida quanto ao jeito de ser cristão hoje em dia. Quando Jesus falou para aqueles que tinham interesse em segui-lo, ele disse: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). Ou seja, o egoísmo tem que ser crucificado para que alguém seja um discípulo de Jesus. Maria se identificou como “serva do Senhor”. Onde estão os servos do Senhor hoje? Onde estão aqueles que podem dizer: “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20). E mais: “para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1.21). A Bíblia diz que Cristo morreu por nós, para que não vivamos mais para nós mesmos, mas para Jesus que morreu e ressuscitou por nós (2Co 5.15).

O apóstolo Paulo escreveu às igrejas da Galácia: “meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (Gl 4.19). Essas palavras falam muito sobre a qualidade da vida cristã, pois, quem nasce de Deus, ou, usando a linguagem da gestação, quem aceita que Jesus seja concebido em sua vida pelo Espírito Santo, tem em si mesmo a divina semente, ou seja, o esperma divino, e por isso não pode viver na prática de pecado (1Jo 3.9). Mas, nascer de novo é apenas o começo em direção à maturidade cristã. Isso acontece num processo ao longo da vida naqueles que deixam que Cristo seja formado neles. Que tenhamos a mesma atitude de Maria para dizer a Deus: “Aqui está o servo do Senhor, que Jesus seja formado dia a dia em minha vida”.

Antonio Francisco - Cuiabá, 8 de maio de 2011 - Voltar para Um novo caminho.

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